Piledriver Waltz - Simbolismo Arctic Monkeys
Autor: João Americano (João Felipe C. S.)
Piledriver Waltz é o retrato da solidão acompanhada. É a música de quem ama e ao mesmo tempo sabe que não vai dar certo, como se o destino já tivesse escrito a desaprovação antes mesmo do primeiro beijo ou do primeiro "oi". O ritmo lento é quase uma marcha fúnebre disfarçada de valsa, como se dançar fosse apenas a forma mais educada de encarar o fim eminente.
É uma melancolia que não grita e se instala devagar no coração, como uma chuva fina em uma tarde cinzenta de domingo. A letra parece brincar com imagens absurdas, mas é tudo só metáfora para a frustração de um amor que existe e que não encontra espaço para nascer de verdade. Não é falta de sentimento, acaba sendo o excesso dele, e por isso se transforma em um peso profundo e tortuoso que ouvimos, sentimos e cantamos.
Ouvir essa música é como segurar a mão de alguém que amos e que sabemos que ela não vai ficar, ou que logo vai se despedir de forma silenciosa. Constantemente estamos frente a frente com a possibilidade do amor correspondido, mas ele vem cheio de preconceitos, medos e impossibilidades assumidas. E o resultado é sempre o mesmo: o silêncio do quarto depois da porta batida, é a lembrança de algo que poderia ser e nunca foi e é o choro sentimental de alguem que idealizou um romance, mas no fim, nunca amou, só desejou ser amado.
Piledriver Waltz não oferece consolação. Ela entrega o retrato fresco da rejeição silenciosa que mata qualquer relação antes de nascer de verdade. É a sinfonia dos corações partidos que se encontram, mas não se permitem permanecer juntos por idealizações mutuas platônicas.
E por isso é uma música tão bonita, porque ela traduz em melodia o paradoxo de querer e não poder ter, amar e não viver, sentir e não realizar. Um amor que se condenou ao vazio, e uma solidão que se tornou ainda mais profunda justamente por ter provado, de relance, o sabor de ser amado por um milissegundo.
Piledriver Waltz é o hino dos corações partidos e dos amantes platônicos.