12 setembro, 2025

Piledriver Waltz - Simbolismo Arctic Monkeys

Piledriver Waltz - Simbolismo Arctic Monkeys


Autor: João Americano (João Felipe C. S.)

Piledriver Waltz é o retrato da solidão acompanhada. É a música de quem ama e ao mesmo tempo sabe que não vai dar certo, como se o destino já tivesse escrito a desaprovação antes mesmo do primeiro beijo ou do primeiro "oi". O ritmo lento é quase uma marcha fúnebre disfarçada de valsa, como se dançar fosse apenas a forma mais educada de encarar o fim eminente.

É uma melancolia que não grita e se instala devagar no coração, como uma chuva fina em uma tarde cinzenta de domingo. A letra parece brincar com imagens absurdas, mas é tudo só metáfora para a frustração de um amor que existe e que não encontra espaço para nascer de verdade. Não é falta de sentimento, acaba sendo o excesso dele, e por isso se transforma em um peso profundo e tortuoso que ouvimos, sentimos e cantamos.

Ouvir essa música é como segurar a mão de alguém que amos e que sabemos que ela não vai ficar, ou que logo vai se despedir de forma silenciosa. Constantemente estamos frente a frente com a possibilidade do amor correspondido, mas ele vem cheio de preconceitos, medos e impossibilidades assumidas. E o resultado é sempre o mesmo: o silêncio do quarto depois da porta batida, é a lembrança de algo que poderia ser e nunca foi e é o choro sentimental de alguem que idealizou um romance, mas no fim, nunca amou, só desejou ser amado.

Piledriver Waltz não oferece consolação. Ela entrega o retrato fresco da rejeição silenciosa que mata qualquer relação antes de nascer de verdade. É a sinfonia dos corações partidos que se encontram, mas não se permitem permanecer juntos por idealizações mutuas platônicas.

E por isso é uma música tão bonita, porque ela traduz em melodia o paradoxo de querer e não poder ter, amar e não viver, sentir e não realizar. Um amor que se condenou ao vazio, e uma solidão que se tornou ainda mais profunda justamente por ter provado, de relance, o sabor de ser amado por um milissegundo.

Piledriver Waltz é o hino dos corações partidos e dos amantes platônicos. 

05 setembro, 2025

Quando o "antinatural" não significa nada

Quando o "antinatural" não significa nada

Autor: João Americano (João Felipe C. S.)

Muitos cristãos, quando querem falar contra o homossexualismo, usam a palavra “antinatural”. Parece que estão soltando um argumento científico, uma verdade que não pode ser contestada. Mas quando você pede uma simples explicação, não vem nada além de versículo bíblico ou a opinião de um pastor. Nunca um estudo ou um dado real.

Só que no sentido empírico da coisa, “antinatural” nem faz sentido. Dois cães machos, se ficam sozinhos por muito tempo, em algum momento tentam cruzar. Isso acontece. Está dentro da natureza. Logo, chamar de “antinatural” é simplesmente usar uma palavra da boca pra fora sem pensar no que realmente significa.

Paulo quando falou do “uso natural da mulher” não estava escrevendo um estudo de biologia. Ele falava a partir de uma visão moral do fato, de uma ideia de natureza primordial de sua época, como Deus a pensou, não como nós a vemos nos instintos ou nos fatos do dia a dia. Quando alguém pega essa fala e usa como se fosse argumento científico, está transformando teologia em caricatura ou em mero argumento sem compromisso algum com fatos reais.

Eu não acredito que Deus vai nos julgar pela nossa conduta sexual. Não acho que Ele fique contando atos isolados como se fosse um fiscal de vigia. O julgamento não é atomístico, é da vida moral como um todo. Do quanto a pessoa buscou sentido, do quanto ela se aproximou ou se afastou do que Ele quis pra nós.

Se há condenação, ela é moral e espiritual, não científica. Misturar as duas coisas só empobrece a fé e deixa o discurso cristão parecendo raso, preso a palavras mal usadas e mal compreendidas.

03 setembro, 2025

Amor não é sobre você

Amor não é sobre você

Autor: João Americano (João Felipe C. S.)

O amor, quando reduzido à emoção, transforma-se em uma doença contagiosa e perigosa. É uma febre de almas que consegue confundir as batidas do coração com o momento de prazer e felicidade. Mas o verdadeiro amor não é um capricho meramente passageiro, não é o calor dos instintos, nem o reflexo de um narcisista que busca no outro a confirmação de si. O amor é uma ferida aberta no tempo, é a intuição de algo que nos ultrapassa, que aponta para uma realidade mais alta.

Amar é olhar e não ser visto. É caminhar pela noite, cercado de carros, ruídos, luzes artificiais e ainda assim sentir que existe uma promessa de eterna paixão entre nós. É sofrer o silêncio, é ser um homem sem rosto para pessoa amada, esquecido entre milhões e ainda se levantar porque o coração sabe que o amor não é deste mundo.

A tragédia do homem moderno é ser amado para poder amar, quando na verdade, precisamos amar sem precisar sermos amados. Amar incondicionalmente, ou quase isso. O sofrimento amoroso foi substituído pela busca imediata do prazer, do corpo, da validação e do desejo destrutivo. Mas a grandeza do amor é justamente amar sem necessariamente precisar ser amado, em ser tratado pela indiferença e mesmo assim, erguer-se e amar verdadeiramente.

O tempo é o castigo, sim, porque todo amor verdadeiro é prova de paciência. E quem não suporta o tempo, não suporta amar. O amor exige eternidade, e por isso fere tanto dentro do tempo. Amar é ser derrotado todos os dias, e ainda assim, não desistir. Amar é cair e levantar para sempre.

02 setembro, 2025

Astrologia 3: O fascínio pelo sentido

Astrologia 3: O fascínio pelo sentido

Autor: João Americano (João Felipe C. S.)

O interesse pelos astros não nasce da verdade, mas da necessidade de sentido. A astrologia promete organizar o caos da vida terrestre, oferecer certezas e criar padrões onde a realidade é apenas imprevisível. Não importa se o horóscopo se confirma ou não; o que importa é a sensação de que existe uma lógica por trás de cada acontecimento, mesmo que inventada ou percebida por impressões.

Quando alguém diz “meu signo indica que devo agir assim”, na verdade ele busca consolo diante da complexidade da sua existência. É uma tentativa de se entender e compreender o mundo sem enfrentar a responsabilidade pelas próprias escolhas ou pelos acontecimentos que simplesmente ocorrem.

A astrologia não transforma a realidade. Ela oferece apenas narrativas para o medo, a dúvida e a busca de importância no mundo sensível e invisível. Por trás de cada carta astral ou previsão, está a necessidade humana de coerência e significado.

O problema não é imaginar ou usar metáforas, mas confundir fantasia com conhecimento. A vida continua, complexa e imprevisível, e a única influência real sobre ela é a própria consciência, o esforço para compreender, decidir e agir.

Não podemos prever tudo, nem justificar cada acontecimento. Às vezes a vida simplesmente acontece. Um dia você acorda nutrido, feliz, com energia; horas depois, magoado, chateado e doente. A vida flui assim, segundo a segundo, sem aviso e sem qualquer padrão.

Aprendemos a viver sem precisar de sentido prévio. O sentido surge na própria vivência: para o doente, é se curar; para o atleta, é conquistar sua vitória. O que importa é o presente, o que estamos fazendo agora, e não a posição dos astros. O sentido é sempre algo maior que nós, mas que está em nosso alcance.

01 setembro, 2025

A Autenticidade madura

 A Autenticidade madura

Autor: João Americano (João Felipe C. S.)

A chamada maturidade subjetiva não surge de repente, nem aparece como fruto automático da passagem dos anos. Há quem chegue aos 40, 50 ou até 70 anos com a mesma cabeça de um adolescente que não sabe olhar para si mesmo sem ter que recorrer a um álibi externo, sem se apoiar numa ideologia ou em desculpas para justificar tudo o que fez ou faz.

A verdadeira maturidade nasce da integração das camadas mais profundas da personalidade. Quem ignora sua própria origem e história vive como um estrangeiro de si mesmo. Quem não conhece seu corpo e seus instintos permanece escravo das próprias paixões e dos desejos mundanos.

Subjetividade madura é a capacidade de encarar a realidade como ela é, e não como se gostaria que fosse. O sujeito imaturo exige que o mundo se ajuste aos seus desejos. O maduro entende que o mundo o ultrapassa em infinitas dimensões e que sua tarefa é apenas encontrar o seu lugar tal como é.

O imaturo, incapaz de sustentar o peso da própria identidade, prostitui-se socialmente. Vende sua personalidade em troca de uma aprovação social, molda-se ao gosto do grupo, teme o julgamento, a rejeição e a exclusão. Vive de máscaras e personagens, acreditando que engana os outros quando, na verdade, apenas desmoraliza a si mesmo. Esse é o sujeito que nunca trabalhou suas camadas de linguagem e caráter, que não iluminou seus sentimentos nem educou suas emoções, tornando-se refém das próprias reações.

O maduro se coloca de forma clara, mesmo que imperfeita, mas fiel ao que compreende de si e da realidade. Não se prostitui por aplausos, não se rende ao julgamento das tendências do momento. Ele assume a impopularidade como o preço da verdade, de ser alguém verdadeiro. É da sua imaginação, da sua razão e da sua consciência moral, que ele extraiu o sentido que o sustenta diante da pressão externa. Ele sabe que não precisa provar nada para ninguém e que se foda o mundo. Ele é o que é.

E aqui está o ponto: maturidade não é insensibilidade. O sujeito maduro sente dor, chora, ama e sofre. Mas não se deixa dominar pela emoção nem a transforma em justificativa universal para qualquer ação banal. Ele vive a emoção, mas entende que ela não é tudo. Sabe que acima do sentimento está a vontade, e é ela que coloca ordem no caos interno do ser humano.

Subjetividade madura é a união da consciência com a realidade. É quando a imaginação deixa de ser criadora de ilusões e se torna serva da verdade. É quando a inteligência deixa de ser instrumento para racionalizar caprichos e se transforma em via para reconhecer a própria ignorância e evoluir.

A marca do imaturo é a vitimização. A marca do maduro é a autoria. O primeiro vive como espectador de si mesmo com medo. O segundo escreve sua história a partir daquilo que é e assume o medo de ser.

É nessa diferença que se mede o adulto verdadeiro diante do adulto falso ou covarde: o primeiro consegue visualizar e integrar suas camadas da personalidade; o segundo permanece preso em uma ou duas, arrastando a vida como quem nunca enxergou a realidade, entregando sua identidade como moeda barata de troca social.

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